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Há cerca de três mil anos, pessoas muito criativas de várias partes do mundo – Índia, Grécia, Oriente Médio e China – descobriram aquela que, segundo imaginaram, seria uma verdade fundamental sobre os seres humanos: por trás de nossa separação imanente, há uma unidade transcendental. Esta unidade transcendental foi chamada por vários nomes, como Espírito, e, mais recentemente, Consciência. As tradições estabelecidas por essas pessoas são as grandes tradições espirituais do mundo.

Surgiram religiões dos ensinamentos desses grandes Mestres – versões popularizadas das grandes tradições. Acima de tudo, seu lema era: simplificar. As pessoas não entendem o que significa “transcendência” em oposição à realidade de tempo-espaço imanente. Não importa. A religião equiparava transcendência e espaço exterior. As pessoas não conseguem visualizar, e muito menos explorar, uma consciência unitária com poder causal chamada causação descendente. As religiões criaram a ideia de Deus à imagem de um ser humano, só que todo-poderoso. Com o tempo, o conceito corrompeu-se ainda mais.

Primeiro, as tradições espirituais deram-nos o conceito de virtudes divinas, ou arquétipos como Amor e Bondade, que disseram que deveriam ser cultivadas criativamente. Mas onde está o tempo para investigação criativa dos atarefados vendedores das religiões? Em lugar disso, os líderes religiosos criaram versões codificadas das realizações dos Grandes Mestres, chamados de Bons livros, que incluíram códigos espirituais e de comportamento moral.

Segundo, com o tempo, cada religião começou a se vender como a fé superior ou como o único caminho a seguir. Adeptos de cada religião declararam-se o povo “eleito”.

Deste modo, o conceito de consciência unitária deu lugar a um novo tipo de separação: nós contra eles. Obviamente, se nossa religião é superior à sua, por que não posso ter a prerrogativa de ser intolerante com relação a suas equivocadas visões religiosas? Logo, o que culmina é a intolerância religiosa.

Entretanto, antigamente o sistema continha uma graça redentora. Todas as religiões admitiam que a verdade nem sempre pode ser codificada como um punhado de conceitos ou de leis racionais: logos. Parte dessa verdade sutil tinha de ser transmitida por meio de histórias: mythos, mitologia. Assim, surgiu a ambiguidade, mantendo algum espaço para a tolerância e o multiculturalismo.

Bem, até recentemente. Como todos sabem, as religiões dominaram nossa visão de mundo até o século dezesseis, aproximadamente. Concentrando-se na espiritualidade, as religiões ignoraram o mundo material a tal ponto que muita gente viveu na miséria material. Então, a ciência moderna surgiu como uma revolta contra a ênfase espiritual. Em quatro séculos, a ciência e seu rebento – a tecnologia – criaram riquezas materiais sem precedentes.

Com o tempo, o sucesso da ciência passou a exercer uma influência importante sobre as religiões. Como foi idealizada originalmente para lidar com a matéria, a ciência pode ser apresentada de maneira mais ou menos completa em termos de logos – pelo menos, foi o que pensaram. O mythos foi menosprezado e acabou sendo eliminado da ciência. Este aspecto da ciência passou para as religiões, que também começaram a solapar o mythos; com isso, as religiões tornaram-se logocêntricas e nada ambíguas. A única salvaguarda contra a intolerância desapareceu.

Podemos chamar essas religiões – interpretações literais dos Bons Livros – de fundamentalistas. Porém, encaremos os fatos. Atualmente, os fundamentalistas dominam praticamente todas as religiões. Deste modo, a intolerância religiosa está em toda parte, sem controle.

Intolerância Política

A história da ciência contra a religião não está completa. Durante um bom tempo, houve um armistício entre ambas: a ciência dominava a exploração do domínio material ou exterior da realidade; a religião, o espiritual ou interior. Porém, em meados do século vinte, o sucesso da ciência tornou-se tão convincente para seus praticantes, e o fundamentalismo das religiões tão abominável, que os praticantes da ciência desistiram do armistício e criaram sua própria religião: ironicamente, seu próprio dogma – tudo é matéria e seu movimento; e não existe causa alguma exceto interações materiais. Deus se fora, a causação descendente se fora e o mythos se fora.

Hoje, damos à nova religião o nome de materialismo científico. Com sua criação, agora há duas visões de mundo: uma materialista, a outra religiosa. Ambas são logocêntricas e, naturalmente, há uma enorme intolerância entre elas.

A democracia, tal como existe hoje, vive num sistema de dois partidos. Naturalmente, um desses partidos políticos seria liberal. Apoia a liberdade de dogmas, apoia o progresso como a exploração contínua do significado. Naturalmente, o outro partido opor-se-ia a esse; seria conservador, atuando como um freio necessário sobre a agenda progressista dos liberais.

Quando a ciência estava tentando se livrar do dogma das religiões, os liberais apoiaram naturalmente a ciência. Quando a própria ciência tornou-se dogmática, o hábito continuou. Assim, os liberais, com poucas exceções e ao contrário do espírito da palavra liberal, agora têm um dogma, o materialismo científico. A maioria dos conservadores, naturalmente, apoia abertamente o dogma oposto – o religioso.

Antes da polarização entre os dogmas, líderes dos partidos liberais usava o poder político para ajudar a classe média a processar significados. Nem os conservadores se opunham ao processamento de significados quando o mythos era importante. Assim, ocasionalmente os dois partidos trabalhavam juntos pelo bem da sociedade. Mas quando o dogma tomou conta dos dois partidos, o mythos foi banido e, com ele, a diversidade de significados. Logo, o poder político é hoje usado cada vez mais para dominar as pessoas. Deste modo, a intolerância política tem uma nova característica – a dominação é tudo, o meio-termo é impensável.

O Remédio

A cura para a polarização, a intolerância e a busca da dominação pode ser encontrada numa visão de mundo integradora. E é disto que trata a visão quântica do mundo – a integração da ciência e da espiritualidade. Na física quântica, os objetos são potencialidades dentre as quais a consciência faz escolhas, e pertencem ao domínio transcendente da realidade. A escolha (a causação descendente) feita pela consciência cria o domínio espaço-tempo imanente. As potencialidades da consciência consistem tanto em matéria quanto em mente; com isso, significado, sentimento e valores voltam para a ciência. Reconhecemos que a tarefa do mundo material consiste em fazer representações da consciência e dos mundos sutis do significado, dos sentimentos e dos valores arquetípicos. A matéria segue o logos; mas o sutil precisa do mythos para expressar seus segredos. Com o mythos de volta ao jogo, a ambiguidade retorna e, com ela, a tolerância.

Naturalmente, vai ser uma luta até colocar a visão quântica de mundo na sela; as forças do status quo são muito fortes. Precisamos do ativismo quântico – pessoas dispostas a dedicar sua criatividade à consciência e à visão quântica de mundo que reconhecem a supremacia da consciência. Precisamos de novos líderes políticos. A boa notícia é que, com o reconhecimento da importância do significado e dos valores arquetípicos, com o ativismo quântico guiando suas vidas, as pessoas estão explorando novamente significados. Os novos líderes que vão dedicar seu poder ao serviço do movimento da consciência rumo ao significado e aos valores vão, sem dúvida, emergir do mesmo movimento do ativismo quântico.

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